Falecido em 1997, Francisco de Assis França faria 45 anos hoje e seu legado ainda é tido como novo
Francisco de Assis França, nascido em 13 de março de 1966, no subúrbio de Olinda, poderia ter sido um cara comum. Mas o caçula dos quatro filhos de dona Rita e seu Francisco não era. Desde cedo colocou em prática um estilo de vida que viraria uma espécie de bandeira: diversão levada a sério. Gostava de histórias em quadrinhos, ritmos negros e de frequentar rodas de breakdance de Olinda e do Recife. E com seu amigo Jorge Du Peixe, montou uma equipe de b-boys. Até aí, ninguém poderia suspeitar que ele mudaria a música e a cultura do país.
Foto: Gil Vicente/FanzineChico era um sujeito que gostava de descobertas, o que pode ter sido um fator determinante para a criação do seu vasto repertório de referências, aberto a tudo o que é som: de Afrika Bambaata a Kraftwerk, de Public Enemy a Jackson do Pandeiro. Ainda nos anos 1980, estava claro para ele quão importante era criar uma persona e dar mais espaço para a sua criação. Foi assim que nasceu Chico Vulgo e, com ele, suas primeiras bandas. Ainda com formações clássicas (baixo, guitarra e bateria), a estrutura de seus primeiros grupos foi motivada pela máxima do faça você mesmo do punk inglês, mas a levada rítmica de Chico já dava sinais de que algo muito diferente estava surgindo.
Nas suas andanças em Olinda, os companheiros de troca de ideias eram Jorge Du Peixe e H.d.Mabuse - membro do Re:combo considerado o ministro da tecnologia do movimento mangue. Na busca por discos bacanas, conheceu a turma de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes: Fred Zeroquatro (já líder da Mundo Livre S.A), Renato L. (hoje secretário de Cultura), Helder Aragão (DJ Dolores), Hilton Lacerda (roteirista). A facilidade que Chico tinha para criação rítmica rendeu-lhe, nessa turma, o apelido de´cientista dos ritmos`. Ele deixou, então, de ser Vulgo e virou Science.
Outra ciência dominada por Chico era a de unir pessoas. Não demorou para que as turmas do Recife, Olinda e Jaboatão virassem uma coisa só. Músicos, artistas pláticos, jornalistas, cineastas, fotógrafos, bon vivants, formavam um coletivo com um único desejo: fazer algo capaz de sacudir, transformar. Chico, investindo em suas buscas sonoras, se aproximou do Mestre Meia Noite, do Daruê Malungo, e conheceu os tambores do Lamento Negro - que passou a ser o seu grande projeto musical.
Assim, surgiu a banda Chico Science e Nação Zumbi (CSNZ). Era o início dos anos 1990 e do movimento mangue ou mangue bit, como eles preferiam. Se Chico era o porta-voz desse núcleo criativo, Fred Zeroquatro conseguia esmiuçar em discurso todas as vontades do movimento. Foi ele quem escreveu o primeiro manifesto Caranguejos com cérebro. Mesmo antes da internet, esse grupo já sabia que a cibercultura seria o canal de distribuição de informação.
Em 1993, dois anos após a redação do primeiro manifesto, surgia o Abril pro Rock. A MTV Brasil, que se consolidava no país, acompanhava de perto o festival. Chico subiu ali, no palco do Circo Maluco Beleza, nas Graças, vestido para tomar de assalto a cena pop: chapéu coco, gigantes óculos escuros, bermuda estampada, meião branco e um conga velho. ´Boa tarde, mangueboys e manguegirls, Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S.A, movimento mangue, é hora de mostrar as mangas!`.
Começava assim a grande reverberação da música do alquimista de ritmos. Sua arte invadiu rapidamente festivais europeus e norte-americanos e rompeu uma fronteira com a qual a música brasileira se deparava há anos. Lá fora, ele não estava em festivais temáticos ou dentro de programações ´world music`. Era um artista pop. Com ele, seus amigos de movimento também foram mudando o foco de atenção de formadores de opinião e da indústria fonográfica. O Recife virou rota para entender a inovação cultural. Chico Science não era, definitivamente, um cara comum. Era um catalisador de ideias, de ritmos, de vida. Um acidente de carro, em 1997, interrompeu sua trajetória. Mas a mudança cultural que ele operou não parou mais. Sua criação ainda vibra como algo novo, até hoje, como um presente ao mundo pelo seus 45 anos de vida.
Foto: Gil Vicente/Fanzine
Nas suas andanças em Olinda, os companheiros de troca de ideias eram Jorge Du Peixe e H.d.Mabuse - membro do Re:combo considerado o ministro da tecnologia do movimento mangue. Na busca por discos bacanas, conheceu a turma de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes: Fred Zeroquatro (já líder da Mundo Livre S.A), Renato L. (hoje secretário de Cultura), Helder Aragão (DJ Dolores), Hilton Lacerda (roteirista). A facilidade que Chico tinha para criação rítmica rendeu-lhe, nessa turma, o apelido de´cientista dos ritmos`. Ele deixou, então, de ser Vulgo e virou Science.
Outra ciência dominada por Chico era a de unir pessoas. Não demorou para que as turmas do Recife, Olinda e Jaboatão virassem uma coisa só. Músicos, artistas pláticos, jornalistas, cineastas, fotógrafos, bon vivants, formavam um coletivo com um único desejo: fazer algo capaz de sacudir, transformar. Chico, investindo em suas buscas sonoras, se aproximou do Mestre Meia Noite, do Daruê Malungo, e conheceu os tambores do Lamento Negro - que passou a ser o seu grande projeto musical.
Assim, surgiu a banda Chico Science e Nação Zumbi (CSNZ). Era o início dos anos 1990 e do movimento mangue ou mangue bit, como eles preferiam. Se Chico era o porta-voz desse núcleo criativo, Fred Zeroquatro conseguia esmiuçar em discurso todas as vontades do movimento. Foi ele quem escreveu o primeiro manifesto Caranguejos com cérebro. Mesmo antes da internet, esse grupo já sabia que a cibercultura seria o canal de distribuição de informação.
Em 1993, dois anos após a redação do primeiro manifesto, surgia o Abril pro Rock. A MTV Brasil, que se consolidava no país, acompanhava de perto o festival. Chico subiu ali, no palco do Circo Maluco Beleza, nas Graças, vestido para tomar de assalto a cena pop: chapéu coco, gigantes óculos escuros, bermuda estampada, meião branco e um conga velho. ´Boa tarde, mangueboys e manguegirls, Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S.A, movimento mangue, é hora de mostrar as mangas!`.
Começava assim a grande reverberação da música do alquimista de ritmos. Sua arte invadiu rapidamente festivais europeus e norte-americanos e rompeu uma fronteira com a qual a música brasileira se deparava há anos. Lá fora, ele não estava em festivais temáticos ou dentro de programações ´world music`. Era um artista pop. Com ele, seus amigos de movimento também foram mudando o foco de atenção de formadores de opinião e da indústria fonográfica. O Recife virou rota para entender a inovação cultural. Chico Science não era, definitivamente, um cara comum. Era um catalisador de ideias, de ritmos, de vida. Um acidente de carro, em 1997, interrompeu sua trajetória. Mas a mudança cultural que ele operou não parou mais. Sua criação ainda vibra como algo novo, até hoje, como um presente ao mundo pelo seus 45 anos de vida.
Chico Science ainda vibra