domingo, 13 de março de 2011

Francisco de Assis França


Falecido em 1997, Francisco de Assis França faria 45 anos hoje e seu legado ainda é tido como novo



Francisco de Assis França, nascido em 13 de março de 1966, no subúrbio de Olinda, poderia ter sido um cara comum. Mas o caçula dos quatro filhos de dona Rita e seu Francisco não era. Desde cedo colocou em prática um estilo de vida que viraria uma espécie de bandeira: diversão levada a sério. Gostava de histórias em quadrinhos, ritmos negros e de frequentar rodas de breakdance de Olinda e do Recife. E com seu amigo Jorge Du Peixe, montou uma equipe de b-boys. Até aí, ninguém poderia suspeitar que ele mudaria a música e a cultura do país.


Foto: Gil Vicente/Fanzine
Chico era um sujeito que gostava de descobertas, o que pode ter sido um fator determinante para a criação do seu vasto repertório de referências, aberto a tudo o que é som: de Afrika Bambaata a Kraftwerk, de Public Enemy a Jackson do Pandeiro. Ainda nos anos 1980, estava claro para ele quão importante era criar uma persona e dar mais espaço para a sua criação. Foi assim que nasceu Chico Vulgo e, com ele, suas primeiras bandas. Ainda com formações clássicas (baixo, guitarra e bateria), a estrutura de seus primeiros grupos foi motivada pela máxima do faça você mesmo do punk inglês, mas a levada rítmica de Chico já dava sinais de que algo muito diferente estava surgindo.

Nas suas andanças em Olinda, os companheiros de troca de ideias eram Jorge Du Peixe e H.d.Mabuse - membro do Re:combo considerado o ministro da tecnologia do movimento mangue. Na busca por discos bacanas, conheceu a turma de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes: Fred Zeroquatro (já líder da Mundo Livre S.A), Renato L. (hoje secretário de Cultura), Helder Aragão (DJ Dolores), Hilton Lacerda (roteirista). A facilidade que Chico tinha para criação rítmica rendeu-lhe, nessa turma, o apelido de´cientista dos ritmos`. Ele deixou, então, de ser Vulgo e virou Science.

Outra ciência dominada por Chico era a de unir pessoas. Não demorou para que as turmas do Recife, Olinda e Jaboatão virassem uma coisa só. Músicos, artistas pláticos, jornalistas, cineastas, fotógrafos, bon vivants, formavam um coletivo com um único desejo: fazer algo capaz de sacudir, transformar. Chico, investindo em suas buscas sonoras, se aproximou do Mestre Meia Noite, do Daruê Malungo, e conheceu os tambores do Lamento Negro - que passou a ser o seu grande projeto musical.

Assim, surgiu a banda Chico Science e Nação Zumbi (CSNZ). Era o início dos anos 1990 e do movimento mangue ou mangue bit, como eles preferiam. Se Chico era o porta-voz desse núcleo criativo, Fred Zeroquatro conseguia esmiuçar em discurso todas as vontades do movimento. Foi ele quem escreveu o primeiro manifesto Caranguejos com cérebro. Mesmo antes da internet, esse grupo já sabia que a cibercultura seria o canal de distribuição de informação.

Em 1993, dois anos após a redação do primeiro manifesto, surgia o Abril pro Rock. A MTV Brasil, que se consolidava no país, acompanhava de perto o festival. Chico subiu ali, no palco do Circo Maluco Beleza, nas Graças, vestido para tomar de assalto a cena pop: chapéu coco, gigantes óculos escuros, bermuda estampada, meião branco e um conga velho. ´Boa tarde, mangueboys e manguegirls, Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S.A, movimento mangue, é hora de mostrar as mangas!`.

Começava assim a grande reverberação da música do alquimista de ritmos. Sua arte invadiu rapidamente festivais europeus e norte-americanos e rompeu uma fronteira com a qual a música brasileira se deparava há anos. Lá fora, ele não estava em festivais temáticos ou dentro de programações ´world music`. Era um artista pop. Com ele, seus amigos de movimento também foram mudando o foco de atenção de formadores de opinião e da indústria fonográfica. O Recife virou rota para entender a inovação cultural. Chico Science não era, definitivamente, um cara comum. Era um catalisador de ideias, de ritmos, de vida. Um acidente de carro, em 1997, interrompeu sua trajetória. Mas a mudança cultural que ele operou não parou mais. Sua criação ainda vibra como algo novo, até hoje, como um presente ao mundo pelo seus 45 anos de vida.

Um comentário:

  1. Esse homem Chico, criativo,único e ressonante em
    nossas cabeças como o maracatu;vestido a carater para uma festa linda...a da vida...nos deixou muito cedo, gênio precoce do aê!!! Saudades de sua ciência musical única...s2

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