domingo, 10 de maio de 2009

A Lenda de Odin

É o maior de todos os deuses do panteão nórdico, sendo ainda o deus-pai, criador do mundo dos homens, demônios e espíritos esclarecidos, genitor de todos os demais deuses e chefe da família dos Aesir. Seu dia de veneração é a quarta-feira (Wednesday), sua cor é o azul e sua pedra a água-marinha.
Odin era primeiramente conhecido como Wodanaz, do antigo gótico que significava "Mestre da Inspiração"; Vodans no antigo nórdico; Odinn no antigo dialeto das Ilhas Feroé (Costa da Noruega); Ouvin no antigo saxão; Wuodan no alto alemão; Wuotan na Westfalia e finalmente Guodan ou Gudan na Frisia Veda.
Seu nome parece ter origem no antigo nórdico Vada e Od, e no antigo alemão Watan e Wuot. E se inicialmente significavam razão, memória e sabedoria, com o advento do cristianismo passaram a ser associados às palavras tempestuoso e violento.
Existem várias designações para Odin, e as mais conhecidas são: Aldafur (Pai de Todos), Pai dos Exércitos, Pai dos Mortos em Batalha, Pai da Magia, Padroeiro dos Magos, andarilhos e ladrões, Senhor das Runas, Guardião das Runas, Velho Criador, Grim (Encapuzado), Senhor dos Mortos e das Encruzilhadas; e ainda, Senhor do Vento Norte.
Odin é famoso também pelo seu alto grau de conhecimento; e conta a lenda que procura revelá-lo a partir do duelo de palavras, onde aposta a vida e sai sempre ganhando. É comum aparecer às profetisas e visionários pedindo informações estranhas, dando sempre em pagamento ricos presentes. Não podemos deixar de ressaltar ainda que Odin era também conhecido como Senhor da Guerra e da Poesia, e que em sua homenagem havia inclusive uma tropa de sacerdotes-guerreiros intitulada Berserkgrand.
Seus componentes, os Berserkers (nome que significava "Camisa de Urso" ou "Pele de Lobo"), detinham treinamento xamanístico e utilizavam também cogumelos alucinógenos que visavam alterar o estado de consciência. Aqui devemos abrir um parêntese para esclarecer que a imagem que nos chega do guerreiro Viking em nada corresponde àquela que melhor representaria um soldado mediano. Este último portava rústicas túnicas de lã (o que inclusive permitia que enfrentasse o rigoroso inverno nórdico), adornadas pela sobreposição de uma cota de metal. Ao contrário, a imagem popularizada é na realidade a dos Berserkers: homens enormes, com barbas e cabelos longos que se apresentavam vestidos com peles de urso ou lobo, atadas aos corpos por enormes cinturões; e portando ainda grandes elmos adornados por chifres.
Odin era ainda o Rei dos Deuses, e devido a tal habitava o Valhalla - o mais esplendoroso de todos os palácios do Asgard. Sentado em seu famoso trono Hlidskjalf, de onde podia avistar o mundo inteiro, Odin se revestia de onisciência, onipresença e onipotência.
Para isso contava ainda com a ajuda de dois corvos: Hugin (espírito ou razao) e Munin (memória de entendimento), que estavam sempre posicionados em seus ombros, e que durante o dia percorriam o mundo, voltando depois para contar as novidades ao grande deus.
Havia ainda dois lobos: Geri e Freki, que se alimentavam de toda carne (inclusive humana) que era ofertada a Odin, e que montavam guarda aos seus pés.
Não podemos deixar de citar também a fabulosa contribuição de seu lendário cavaio Sleipnir, que, munido de oito patas, permitia ao deus locomover-se rapidamente pelos céus, indo de uma esfera a outra da existência humana ou divina. Dos mágicos anões ferreiros, Odin recebeu sua lança Gungnir que só se detinha após ter atingido o alvo; e o anel Draupnir, que aumentava constantemente as riquezas a quem quer que Odin o emprestasse.
Porém, Odin não vivia só em Valhalla... Em sua companhia habitavam os mais valorosos guerreiros mortos em campos de batalha, recolhidos no minuto derradeiro pelas Valkirias, virgens aladas subordinadas ao grande deus.
Esses guerreiros - alimentados com a carne do javali Schrinnir (que ressuscitava após todas as refeições) e o leite mágico da cabra Heidum (que em muito se assemelhava ao hidromel servido aos deuses) - formavam um exército, por ocasião do Crepúsculo dos Deuses liderado pelo próprio Odin, se levantaria contra as forças ameaçadoras. Enquanto este fato não acontecia, esses valorosos combatentes desencarnados passavam os dias a beber, comer e duelar entre si. Logo, era muito comum que ao findar do dia o todo-poderoso Odin os encontrasse feridos e até mesmo mutilados. Assim, o deus-pai lançava mão de seu potencial mágico mais uma vez, no sentido de promover o retorno à condição inicial "étero-flsica", de cada um de seus guerreiros.
Não devemos nos esquecer que o grande destaque desta figura de cunho divino reside no fato de sua imagem estar intimamente relacionada à origem das runas, tanto do ponto de vista lendário quanto o de uma possível vertente histórica.
Conta-nos a lenda que o poderoso Odin, não satisfeito em ser apenas o chefe do panteão nórdico, desejou ser também um exímio conhecedor dos mistérios mágicos. Para tanto, entregou-se em ritual de sacrifício e abnegação a sua própria figura máxima. Assim, fixou-se Odin de cabeça para baixo por sua própria lança no teixo Yggdrasil, por um período de nove dias e nove noites, sangrando, com fome e com sede. Ao término deste período, avistou Odin no chão os caracteres rúnicos e desceu da Árvore do Conhecimento para recolhê-los. Não satisfeito, solicitou Odin permissão para beber um pouco de água da Fonte de Mimir (Fonte do Conhecimento), e não hesitou em entregar em pagamento por tão valioso líquido mágico um de seus próprios olhos.
De outro lado, encontramos autores, como por exemplo Michael Howard, que defendem a hipótese de um Odin-homem, chefe de uma tribo asiática que deteria conhecimento xamanístico e teria emigrado para a Escandinávia e lá instalado uma religião primitiva, baseada num código secreto de mensagens mágicas. Esse homem, após a sua morte, teria sido elevado à categoria de divindade local, sendo depois o seu culto difundido pelos sacerdotes iniciados nos seus mistérios mágicos.
Odin era também voltado às aventuras amorosas, e a Edda o apresenta como tendo várias simultaneamente. Situamo-nos a partir de seu matrimônio com a deusa Frigg, que lhe teria dado três filhos, a saber: Baldur, Hodur, e Hermod.
Com a deusa Terra, Odin teria tido o filho Thor, o mais forte dentre todos os seres humanos e divinos; além de Wall, com a giganta Rinda, que após a morte de Baldur teria enlouquecido, nunca mais tendo penteado os cabelos e lavado as mãos. Havia ainda o filho Vidar, de sua união com outra giganta, que era conhecido como o mais silencioso dos Aesir. Este personagem tem destaque especial no Crepúsculo dos Deuses, pois, embora tivesse fama de ser portador de uma inteligência nada brilhante, foi o único que conseguiu liquidar o lobo Fenris durante a batalha final (tarefa não realizável até mesmo pelo todo-poderoso Odin).
Devemos destacar o deus Bragi, tido como filho de Odin com uma humana, que pouco aparece nos manuais de mitologia escandinava em função do seu surgimento tardio, e até mesmo influenciado pela mitologia romana, que contava com seres oriundos de relações estabelecidas entre deuses e humanos.


Yggdrasil - A Árvore do Mundo


A sustentação do planeta Terra sempre foi um fator de imensa curiosidade aos olhos primitivos. Assim, cada cultura, e por conseguinte cada mitologia, procurou sempre abordar este tema da maneira que lhe parecesse mais convincente e lhe fosse mais conveniente. Para a mitologia nórdica não se fez uma exceção.
A visão comum a esses povos bárbaros era a de um universo ao longo da sombra de uma gigantesca árvore que mantinha suas descomunais raízes entranhadas na terra, com o propósito de manter coesa a massa terrestre. Conta-nos a lenda que essa árvore denominada Yggdrasil seria do tipo Teixo, também conhecida como Árvore do Mundo ou Árvore do Conhecimento. Sua origem estaria ligada ao mito da criação anteriormente citado, e teria surgido do corpo do gigante Ymir, assumindo proporções descomunais e propriedades fabulosas. Sua imensa copa chegaria aos céus, podendo desta maneira permanecer sempre banhada por uma luminosa nuvem que orvalhava hidromel (bebida dos deuses), e que tinha por função revitalizar automaticamente a imensa árvore, que alimentava com seus brotos, folhas e mesmo raízes animais que habitavam as circunvizinhanças.
Estas raízes seriam de proporções fantásticas e número ilimitado; sendo que três seriam dignas de destaque. A primeira por atingir simbolicamente o Asgard (morada dos deuses), após ser infinitamente banhada pela Fonte das Nornes, as deusas do destino. Acreditavam os nórdicos ser essa fonte detentora de potencial rejuvenescedor, sendo uma das explicações para a perenidade dos deuses. A segunda, por penetrar no Jotunheim, Terra do Gelo, onde passaram a viver os gigantes após serem expulsos do Asgard por Odim e sua família), e finalmente atingir a fonte de Mimir tida como fonte da sabedoria e inteligência.
Segundo a lenda, seu guardião era tio e conselheiro particular do Todo-Poderoso Odin, que também se chamava Mimir, palavra que significa "Aquele que. Pensa". E embora algumas obras o coloquem como deus da sabedoria, Mimir era um ser menos poderoso, que pertencia à raça dos gigantes, e detinha talentos mágicos de gênio - sendo famoso por sua inteligência e prudência. Ao que tudo indica, era tão grande sua sabedoria que Odin não hesitou em trocar um de seus olhos por um pouco da água da Fonte Mimir que lhe revelou o significado dos símbolos rúnicos. O mito nos relata ainda que sua cabeça era um oráculo poderosíssimo - consultado até mesmo pelo próprio Odin em momentos críticos. A terceira raiz que devemos destacar é aquela que se acreditava atingir o Niflheim (Terra dos Mortos); e era constantemente nutrida pela fonte Hvergelmir, de onde a água se escoava em fabulosas cachoeiras para formar os grandes rios do mundo. Por outro lado, servia constantemente de alimento á serpente-dragão Nidhogge (Escuridão): ser de proporções descomunais que tinha por função corroer constantemente a Árvore do Mundo.
Encontramos a referência de que os galhos mais altos serviam de moradia ao Galo de Ouro, que tinha a responsabilidade de guardar os horizontes e denunciar aos deuses a aproximação de seus eternos inimigos, os gigantes.
Logo abaixo mas ainda no topo, habitava uma águia que passava o tempo a investigar o mundo, e que para tal portava entre os olhos um gavião.
Essa águia vivia em eterna discórdia com a serpente-dragão Nidhogge. A rivalidade entre ambas era alimentada pelo esquilo Ratatosker, que, subindo e descendo incessantemente os galhos do teixo, nutria a desarmonia reinante entre ambas.
Nos galhos habitavam quatro cervos, que representavam os quatro ventos, e passavam o tempo a correr sobre os ramos da Yggdrasil, e devorar-lhes brotos, folhas e mesmo casca. Encontramos na Edda (duas coleções muito antigas de tradições que abrangem a mitologia escandinava) uma referência a um buraco oco no centro da árvore Yggdrasil, onde havia uma sala na qual habitavam tres virgens sábias, que passavam os dias a fiar em suas rocas o destino dos homens. Essas deidades eram as Nornes Urd, Verdandi e Skuld, responsáveis pelo passado, presente e futuro, respectivamente.
Ao pé da árvore habitava a cabra Heidum que se alimentava das verdejantes folhas baixas do teixo mágico, o que lhe permitia produzir um leite que assemelha-se ao hidromel, e que era destinado a servir de alimento aos guerreiros espirituais que formavam o Exercito de Odin.
Encontrava-se ainda fincado próximo a árvore o Irminsul, palavra que significa "Coluna Gigante", e diz respeito a troncos de árvores totêmicos erguidos em localidades elevadas, dedicados à veneração popular e altamente respeitados pelas tribos nórdicas.
Deve-se ressaltar que, ao perceberem-se tremores de terra, estes eram imediatamente vinculados, pelos antigos nórdicos, à imagem de que estando o gigante Ymir cansado de ficar estendido sobre o peso do enorme teixo, tentava libertar-se mais uma vez em vão.
Finalmente, devemos citar uma referência bibliográfica a uma antiga árvore muito alta, de folhagem sempre verdejante e espécie desconhecida, erguia que se próximo a um templo em Upsaíla (Suécia), junto à qual havia uma fonte onde populares costumavam devotar oferendas.
Sabemos também que era costume vigente entre as tribos nórdicas, até o século XIII, que seus chefes fizessem assembléias ao pé de uma árvore; o que pode estar diretamente relacionado a imagem mitológica de que os deuses se reuniam à sombra da Yggdrasil, para dispensar justiça aos humanos.

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